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sábado, 4 de setembro de 2010

Este texto data de um tempo remoto, quando a consciência da descartabilidade das relações se me aflorou


              

                

  A mercadoligização dos relacionamentos



Este texto constitui uma versão reduzida e revisada de um texto que escrevi há tempo e que pode revelar, no modo extravagante como o tema foi abordado, certa ingenuidade minha em termos da percepção das relações entre homens e mulheres em nossa sociedade. Talvez, meu espírito tenha feito vôos muito altos; no entanto, por acreditar que, de algum modo, o texto possa propiciar ao leitor algum momento de reflexão, cuidei conveniente divulgá-lo.

Tudo começou quando assisti pela televisão uma reportagem sobre uma espécie de contrato de namoro, que consiste num acordo judicial estabelecido pelos parceiros, com vistas a obter privilégios de alguma espécie quando do rompimento da relação. Isso é um sintoma da liquedez dos vínculos humanos de que já tratei alhures, ou seja, é preciso ter garantias em face de sua fragilidade. Contratos desse tipo, comuns na relação conjugal (contrato nupcial), invadem a esfera das relações de namoro, o que indica uma verdadeira burocratização do amor.

É consabido que o sexo, assim como o dinheiro, é instrumento de poder, na sociedade. Tudo, no capitalismo, torna-se mercadoria: inclusive o amor. O amor, enquanto mercadoria, vale por outra coisa, o sexo. Uma vez não obtendo a mercadoria pretendida – sexo – um homem poderá, segundo a lógica do capital, procurar outra pessoa que torne possível a troca (“há outras que estão dispostas a negociar”).

A traição não é mais um sinal de ruptura com a cumplicidade; mas uma tendência. A norma, muita vez, é trair; o anormal, pelo menos entre os mais jovens, é quem não trai. A traição é ensejada pela ideologia do “mercado livre” e da “oferta e procura”. Ora, quando uma empresa enfrenta uma crise econômica, seus investidores não passam a investir seu capital em outra? Assim também, como veremos numa reportagem da revista O Globo, os namorados ou os cônjuges podem investir em outras mulheres/ homens, caso o mercado não lhe seja favorável. Tendo em vista essa ideia, também as empresas, para atrair investidores, reestruturam-se, modernizam-se, investindo em tecnologia, renovando o quadro de funcionários, despedindo e contratando pessoas especializadas para atuar em determinados setores, etc. Em certos relacionamentos conjugais ou pré-conjugais, sucede o mesmo: as chamadas “crises do casamento”, ou as “desavenças da Primavera”, acarretam a procura por outros “mercados” ou “negociadores”; e não escasseiam homens e mulheres que concordam com a ideia, segundo a qual a “traição” só é justificável quando um dos parceiros não satisfaz sexualmente o outro ou não atende aos caprichos do outro. A traição não se justifica! Se os dois indivíduos concordam (pois o casamento é uma aliança, um acordo por vontade recíproca) em unir-se pelos laços matrimonias, então é porque desejam em comum dedicar suas vidas um ao outro. Oh! Inocência romântica, a minha! O mesmo se diz do namoro: nessa relação, deve haver liame afetivo e emocional entre os parceiros, o qual é resultado de uma disposição (psíquica) humana a viver junto do outro; portanto, para suprimir sua solidão social. Ensina-nos Cury (2006:50):



“Podemos conviver com milhares de animais sem jamais termos problemas de relacionamento. Mas, por melhor que seja a relação com um ser humano, sempre haverá frustrações importantes. Apesar disso, não conseguimos deixar de viver em sociedade. Não somos seres sociais pelo instinto que promove a sobrevivência biológica, como acontece com os outros animais, mas por sobrevivência psíquica”.




Os homens têm necessidade psíquica de viver em sociedade. A fidelidade é frágil diante da ditadura dos corpos e de seus atrativos explorados e incrementados pelo mercado. A fidelidade não resiste à neurose social pela fabricação de beleza artificial, pela exploração dos instintos mais primitivos. A fidelidade não se acha no domínio da relação físico-corpórea, ou seja, ela não se sustenta neste domínio, os corpos tendem ou são estimulados à promiscuidade; e quando o espírito é obtuso e estreito, portanto, facilmente seduzido e manipulado, ele será escravo da libido. O amor não está na efemeridade do orgasmo. Conclui-se que a fidelidade depende de uma aliança anímica. A fidelidade é condição indispensável e necessária ao envolvimento emocional, à sustentabilidade do vínculo afetivo não de corpos, mas de almas, de seres psicologicamente complexos. A fidelidade deve habitar a alma humana; pois só a fidelidade credita o amor. Disso se segue que sem fidelidade não há amor.

No momento em que o amor se torna uma mercadoria que vale por outra, que é o sexo, aquela mercadoria “perde” seu valor de mercado, pois, muitas vezes, os negociadores cedem às pressões de um mercado maior que não investe no amor, mas no sexo. O sexo, à semelhança do dólar, torna-se a “moeda” universal que compra o prazer, pois o “prazer” é o verdadeiro bem de consumo do homem. O mercado do amor aufere lucros exorbitantes no Dia dos Namorados, ocasião em que os shoppings estão repletos de gente e em que os “pombinhos” vão às compras. Não quero com isso sugerir que não concorde com a ida ao shopping no Dia dos Namorados, mas apenas chamo a atenção para o fato de que o mercado se aproveita de ocasiões como esta em que se celebram a harmonia, o “amor”, para atender às necessidades econômicas.

O sexo é uma fonte de prazer natural; mas, no momento em que ele se torna domínio de sistemas teóricos especializados, de discursos especializados, acaba por ser controlados pelas instituições, entre as quais o mercado. A teorização do sexo implica maior quantidade de práticas sexuais; quanto mais se compreende as formas de existência da sexualidade mais domínio sobre ela pode-se ter e mais estimulada ela será.

Uma vez não tendo valor no mercado de trocas, das emoções, o amor torna-se uma moeda desvalorizada, pois já não vale mais para obter o prazer, que assume várias formas, entre as quais a sexual, que é a forma natural e instintiva, segundo a psicanálise freudiana. Ou seja, para gozar do prazer sexual, não se precisa mais “experimentar” ou “falar de amor”; basta que se detenha algum atrativo econômico.

Viver intensamente e fielmente nossa sexualidade é um meio de liberdade; a liberdade não se confunde com promiscuidade. Se tomarmos o caso do mercado pornográfico, o que observamos é que é o dinheiro que intermedeia a negociação: o corpo é o “bem-privado” que é vendido para a obtenção de um valor monetário determinado. A “mão-de-obra” aqui é a capacidade de fazer sexo. É essa capacidade, a rigor, que é vendida; afinal, não basta que o corpo seja atraente, tenha atributos exigidos pelo mercado, se o homem ou a mulher não podem, por alguma patologia, praticar o ato sexual. Ora, um homem impotente sexualmente não tem valor de mercado, muito embora sobressaiam seus músculos e formas apreciáveis. Nesse mercado, o corpo não pertence mais ao indivíduo, que deve mantê-lo segundo os padrões estéticos exigidos pelo mercado; o corpo pertence a esse mercado pornográfico. E ouvimos certas mulheres de filmes pornográficos se proclamarem “atrizes”!

Deve-se distinguir, pois, claramente, entre os dois domínios em que o sexo se torna mercadoria e, consequentemente, em que o Amor se desvaloriza, do ponto de vista de seu valor de mercado: o domínio das relações descartáveis ou epidérmicas entre indivíduos que não se valem do dinheiro para obtenção do prazer (exceto, no caso em que o homem recorre a prostíbulos); e o domínio social em que o sexo vale por dinheiro, numa relação claramente mercantil.

Tanto num quanto noutro domínio, as relações tornam-se esvaziadas emocionalmente. Veja-se, a título de ilustração, como uma formação ideológica procura justificar a traição que é, implicitamente, tomada como consequência de uma relação convencional e antiquada. Aqui está a expressão do pensamento de uma ex-garota de programa, em entrevista na revista O Globo.

“A mulher que se transforma em garota de programa para seu companheiro com certeza vai estar um grande passo para ele não pensar em traição. Os homens querem novidades sexuais, justamente o que não têm dentro de casa. Se a esposa oferece isso, ele não vai precisar de outras mulheres – avalia a moça, com a experiência de quem trabalhou três anos atendendo a uma média de cinco clientes por dia”.

Respiremos, leitor, porque seu pasmo é também o meu. O que dizer disso? É claro que essa forma de perceber e de entender os relacionamentos entre homens e mulheres é reflexo das condições sócio-culturais e econômicas em que ela viveu.

Vejamos o que está explícito e o que está implícito:


Está explícito:


a) a ideia de que, para que não haja traição, é preciso “requintar” a relação sexual; é preciso que a esposa vista a personagem da “prostituta” ou da “frentista do prazer” que realiza o egoísmo pervertido do parceiro;

b) o desejo dos homens de requintar a relação sexual e a crença em que a ‘casa’ não é lugar para extravagâncias sexuais, ou melhor, o ambiente doméstico é o lugar do sexo comum, do sexo convencional que todo casamento, também convencional, requer;


O que está implícito:


a) é reforçado, tacitamente, um estereótipo de mulher-esposa, que deve cumprir as tarefas domésticas, cuidar dos filhos (quando os tem) e satisfazer a libido do marido numa experiência sexual comum e padrão (vulgarmente chamada de ‘papai-e-mamãe’);

b) Constroem-se e opõem-se duas imagens referentes à mulher: a esposa, dona de casa zelosa, comportada e sexualmente antiquada; e a “garota de programa” (ou mesmo a da “tiazinha/feiticeira”), que representa o libertino e a possibilidade do requinte, da satisfação das fantasias.


Há, então, o pressuposto de que a esposa tem de encenar uma personagem “erótica” e “lasciva”, fazendo quebrar a “casca grossa da rotina”, como condição necessária para que os seus maridos não venham a traí-las. Ora, acreditar em que a única forma de evitar a traição do homem seja a de satisfazer sua vontade lasciva significa minar valores como diálogo, respeito, cumplicidade, amor – que devem primar em qualquer relacionamento.

A sugestão da ex-garota de programa é não só um produto ideológico, como também ineficaz, porquanto, afinal, não é encenando eroticamente, vestindo a personagem da prostituta, que o receio e a desconfiança da esposa se esvaecerão. A “novidade”, inevitavelmente, tornar-se-á, num lapso de tempo curto, “repetição”, o que demandará novas formas de requinte sexual (na sociedade líquida, o imperativo é a busca pelo novo). Note-se bem, leitor: estamos diante de um exemplo claro da insaciabilidade do homem moderno. No domínio do sexo, considerando-se o oferecimento pelo mercado de produtos destinados a estimular cada vez mais as práticas sexuais e a aumentar sua ‘qualidade’, interessa a esse mercado que os consumidores permaneçam num estado de insatisfação, para que continuem a consumir mais produtos destinados ao sexo.

Devemos a Augusto Cury o termo ditadura da beleza, com o qual ele interpreta a neurose coletiva pela busca contínua por um padrão de beleza, que é estabelecido pela televisão, pela moda e pela publicidade e que é reforçado nas experiências cotidianas do homem comum. É necessário obter e conservar a beleza para continuar a participar dos meios sociais de consumo. Essa forma de sociedade produz indivíduos narcísicos e carentes de profundidade psicológica.

Notemos como o mercado, considerado agora em sua vertente editorial, determina padrões e reforça estereótipos, contribuindo para aumentar a distância sócio-subjetivo-emocional entre homens e mulheres. Sabemos que as revistas produzidas e publicadas destinam-se às exigências de um determinado público; na realidade, os agentes da moda e da publicidade e toda a indústria editorial captam os modos sócio-culturais de existência e as tendências, aproveitam-se das novas descobertas tecnológicas e científicas, reconhecem e trabalham as ideologias predominantes e empacotam tudo isso na forma de um produto (a revista), destinando-o ao consumidor. Tome-se para exemplo a revista Marie Claire. Nela, se oferecem matérias sobre culinária, moda, decoração, beleza, alimentação, etc. e são sugeridas “receitas para conquistar o homem dos sonhos” (sem mencionar os “testes de fidelidade”); e, aos homens, o mercado editorial oferece revistas com apelo pornográfico e erótico, mantidas por mulheres que visam ao enriquecimento, ao status social e publicitário e que, na sociedade do espetáculo, desejam permanecer sob as luzes dos holofotes da mídia.

Outros dois estereótipos são construídos aqui: de um lado, a mulher moderna, que precisa cuidar da casa, cumprir seus encargos profissionais, sem deixar de estar bonita e atraente aos seus maridos ou companheiros; de outro lado, o homem moderno, que não escapando à onda da beleza a qualquer custo, tem de ser sexualmente satisfeito por essa mulher “multifacetada” e “dinâmica”, que tem de ser versátil para assumir várias “personagens” (a mãe dedicada, a dona-de-casa exemplar, a mulher dos desejos primaveris do marido, a profissional de sucesso que luta por seu espaço, num mercado predominantemente ocupado por homens, e que devem resistir à competição predatória do capitalismo, etc.), mas que tem também de acordar “feliz” por ter ao seu alcance “as páginas amigas” que a conhecem verdadeiramente e que “foram feitas para ela”, das quais só bastará seguir as “fórmulas” para se tornar uma “mulher moderna”.

Há, arraigada em nossa sociedade, uma ideologia segundo a qual sexo e amor são coisas diferentes. Uma música de Rita Lee expressa bem essa separação. Segundo essa ideologia, as mulheres “fazem amor”; os homens “fazem sexo”. O fazer amor pressupõe maior profundidade afetiva e emocional, desejo de perenidade na relação, expectativa de prolongamento e reiteração do prazer. O fazer sexo é meramente circunstancial e atende a necessidades instintivas imediatas; não há espaço para compromisso; a efemeridade é o que o sustenta; as emoções são apenas reflexos de estímulos orgânicos. Igualmente sintomático dessa separação das esferas sexuais em que se situam homens e mulheres é o modo como tanto uns quanto outros se referem à experiência sexual. Os homens se vangloriam do número de mulheres com quem tiveram relação sexual e referem-se a essas experiências com o vulgo comer (“Cara, comi uma mulher!...”). As mulheres, a seu turno, ou “vão para cama”, ou “dão para ele”.

A educação dos pais exerce um papel fundamental no modo de condução da sexualidade de seus filhos. Mais do que ensinar os jovens a ministrar métodos contraceptivos, devem-se transmitir valores tais como “respeito”, “amor”, “cumplicidade”, “fidelidade”, etc. na vivência de sua sexualidade. Nos espaços sociais frequentados, especialmente pelos mais jovens, bocas se unem sem haver aliança, corpos são consumidos sem que haja referenciais prévios (nome, o que faz, o que gosta...). Tais formas de relações imediatas e instantâneas são esvaziadas emocionalmente; não há sequer sombra de amor.

Quando os pais não intervêm nessa esfera de comportamento dos filhos, educando-os, acabam por formar adultos que não estão habituados ao sofrimento, às decepções, às desilusões que cercam toda relação interpessoal; em outras palavras, formam-se pessoas incapazes de lidar com a tristeza, a decepção, a ilusão, forjando um mundo fantasioso, em que tudo pode ser consumido, no qual, havendo inúmeras possibilidades de obter prazer, novas formas de prazer instantâneo devem ser buscadas. Não lhes é ensinada a necessidade de assumirem responsabilidade, tampouco se lhes traz à consciência a ideia de que, ao fazerem escolhas, serão responsáveis por si mesmos e pelos outros, porque, como nos ensina Sartre, minha escolha envolve toda a humanidade; cada escolha que eu faço implica que eu assuma a responsabilidade por ela, bem como pelos outros. Existir, na concepção sartreniana, é não só “estar condenado a ser livre”, mas ter de assumir, por sua liberdade incondicional, a responsabilidade por si mesmo e por todos os outros homens. A verdade desta lição existencialista se sustenta quando observamos as situações em que, não satisfeitos com o comportamento de outrem, questionamos: “E se todos agissem assim?”, “o que aconteceria se todos agissem como você?”.

Em entrevista ao Jornal Folha Dirigida, o professor e sociólogo Nelson Mello e Souza, também vice-chanceler da universidade Estácio de Sá, avalia, entre outras coisas, a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Suas palavras, num tom de denúncia, trazem-nos à consciência as condições sócio-culturais, econômicas e ideológicas em que vivem os homens das sociedades modernas industrializadas:



“(...) Atualmente, não se respeita mais o professor. Houve um processo de decadência. E essa decadência passa pela falta de posicionamento do jovem moderno na vida. Será que pensa estar imune à crise? Será que pensa em ter os pais para sempre? Será que pensa estar livre de sofrer? Pensa que é só surfar, sair com as meninas à noite e se divertir na boate? Será que a vida é isto? Não é isto, infelizmente, talvez, mas não é isto. A vida é muita melancolia, muito drama, muita decepção; e nós temos que nos preparar para isso. A pessoa tem que estar preparada desde cedo para enfrentar as dificuldades da vida”.



Acrescenta:


“As pessoas só pensam no hoje, em ganhar dinheiro hoje. Quanto ao resto é só jogar fumaça no ar, arrebentando a atmosfera toda e plantando soja mesmo que acabe com o solo para a agricultura do país. Eles desconhecem que vão embora, deixando para os filhos e para os netos um mundo em polvorosa. Isso não interessa para eles, não é de interesse do empresário. É um egoísmo transcendental, um deslocamento do ego, o homem passa a ocupar um lugar que nunca ocupou no mundo. Um lugar de absorção total, onde só existe o ego e mais nada. Não existe o outro, o outro é coisa, é objeto manipulado pela esperteza. A esperteza é que manipula o outro. Quanto mais esperta a pessoa é, mais sucesso terá na vida. Esses são os valores transmitidos. O amor está contaminado e fica muito difícil ter relações humanas saudáveis num mundo envenenado por valores completamente distorcidos”.




Essa “contaminação do amor” e a conseqüente dificuldade de experienciar relacionamentos “saudáveis” decorrem justamente dessa “ação segregadora e objetificante” do mercado. As palavras do professor Souza, impregnadas de uma veia cáustica, levam-nos à compreensão do esvaziamento emocional das relações entre homens e mulheres e do esgotamento da consciência crítica nos jovens – consciência esta que é cada vez mais embotada, regredida pelos mecanismos reificadores do mercado.

É preciso, então, reconhecer, considerando-se as condições da cultura pós-moderna, que sexo escusa amor. No entanto, acredito que o amor, quando encarado como sentimento entre os parceiros de uma relação erótica, deve envolver a relação sexual. O amor sem sexo é como um membro amputado; o sexo sem amor viciado.

Que dirá do sexo um romântico como eu, então? É com as seguintes palavras a respeito do sexo que ponho termo a este texto.

O sexo não se resolve num ato; deve ser uma relação anímico-carnal, durante a qual o alvoroço de corpos deixa ver o embaraço de sentimentos de amor dantes inconfessáveis; de uma relação em que o incitamento das ancas e a confusão de bocas deixam ver a irmanação de sentimentos de benquerença nunca dantes conciliáveis. O sexo não é senão uma experiência de sublime adoração e comunhão dos corpos e espíritos humanos. Há, no sexo, assim creio, mais do que uma acomodação de corpos, um roçar afoito pela harmonia perfeita num espaço que repele a unidade; no sexo, há a comunhão das almas, o entrelaçamento dos desejos mais íntimos da alma; enfim, a busca ininterrupta pela superação dos limites físicos da corporeidade.

A penetração do falo e o acolhimento passivo da vagina não é senão o anseio humano por comunicar fisicamente as delícias inconfessáveis que impregnam o o coração e o imaginário. Comunica-se, pelo sexo, mais do que um fluido corporal, um deleite físico, senão a dimensão sentimental imensurável que navega pelas veias, quando o batimento cardíaco se acelera e os corpos se estremecem, e que, ao final, não encontra sua síntese no orgasmo, pois que o prazer é sempre passível de ser revivido.