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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Poema - O excesso de consciência flerta com o desespero

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Corrosão

A vantagem de devotar uma vida ao estudo
É ter o espírito sempre afiado para o dilaceramento
O espírito, tão acostumado à decepção
Pode, assim, satisfazer-se na crítica corrosiva
Que desfia todo o mal que lhe foi causado
Assim, reinstitui-se a justiça que, de resto,
Só evita o enlouquecimento concludente

Há, entanto, um custo muito alto: o excesso de consciência
O excesso de consciência flerta com o desespero
O espírito desesperante se estremece, se agita
Vibra numa cadência fúnebre
Como seja corpo, o espírito precisa resistir ao esgotamento
Privado que foi do poder de sua mais forte expressão!
O gozo interdito precisa encontrar uma solução
Tendo julgado inútil o suicídio,
Resta-lhe o enfrentamento, o embate, de resto
                                                 [uma causa perdida
É que o espírito desesperante – (diga-se filosofante)
Sabe que só a morte é eterna
Que a sexualidade não tem outro sentido senão
vencer o infinito pelo Eros
E tendo se demorado na reflexão das razões,
Conclui (sem certeza)
Que deve adorar a vida pela infinidade de motivos
que não a sustentam

Entanto, adorando a vida, sabe
Assim começou a luta: ou a existência ou eu.
E ambos saímos diminuídos e vencidos

Um pesar que ninguém entendeu: o de ser pessimista
Não é fácil cortar relações com a vida
E ver tudo que mais estima transformado
Em fogos-fátuos do Vazio que o absorve




(BAR)