Corrosão
A
vantagem de devotar uma vida ao estudo
É
ter o espírito sempre afiado para o dilaceramento
O
espírito, tão acostumado à decepção
Pode,
assim, satisfazer-se na crítica corrosiva
Que
desfia todo o mal que lhe foi causado
Assim,
reinstitui-se a justiça que, de resto,
Só
evita o enlouquecimento concludente
Há,
entanto, um custo muito alto: o excesso
de consciência
O
excesso de consciência flerta com o desespero
O
espírito desesperante se estremece, se agita
Vibra
numa cadência fúnebre
Como
seja corpo, o espírito precisa resistir ao esgotamento
Privado
que foi do poder de sua mais forte expressão!
O
gozo interdito precisa encontrar uma solução
Tendo
julgado inútil o suicídio,
Resta-lhe
o enfrentamento, o embate, de resto
[uma causa perdida
É
que o espírito desesperante – (diga-se filosofante)
Sabe
que só a morte é eterna
Que a sexualidade
não tem outro sentido senão
vencer o infinito
pelo Eros
E
tendo se demorado na reflexão das razões,
Conclui
(sem certeza)
Que deve adorar a
vida pela infinidade de motivos
que não a sustentam
Entanto,
adorando a vida, sabe
Assim começou a
luta: ou a existência ou eu.
E ambos saímos
diminuídos e vencidos
Um pesar que ninguém
entendeu: o de ser pessimista
Não é fácil cortar
relações com a vida
E
ver tudo que mais estima transformado
Em
fogos-fátuos do Vazio que o absorve
(BAR)