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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

"Somente o presente nos pertence, não o momento passado nem aquele que esperamos, porque um já se desfez e o outro não sabemos se virá" (Aristipo de Cirene)

                                      
                                                


                            Sobre viver e tempo


Tu me fizeste crer ser possível e me furtaste o possível pelo temor ao futuro. Tenho ódio a mim por minha teimosia na expressão de palavras promitentes. Não compreendes que a forma da vida é o presente, que o futuro e o passado só existem como noções para a consciência? Não há futuro, não há passado. O real é o próprio presente. Ao se ocupar do que foi e ao se preocupar com o que ainda não é, atormentas-te com nada, pois nenhum homem vive no passado ou no futuro. Ao proibir-se o presente, proíbe-se tudo.
Risíveis são os homens preocupados com o futuro, pois não se dão conta de que o que chamam de futuro é mera projeção de acontecimentos, que não são, na imaginação. Esses acontecimentos futuros não existem. O passado não é mais; o futuro ainda não é. Passado e futuro são dois nomes para o não-ser. Não habitamos nem o passado, nem o futuro. Sou no presente e o destinar-se da vida é o presente sempre estável, inabalável. Falo de amanhã, mas enquanto falo, estou no presente, sou no presente. E quando penso -  chegou o amanhã -, já é presente.
Lição schopenhaueriana: “jamais homem algum viveu no seu passado, nem viverá no seu futuro: é só o presente que é a forma de toda a vida. O presente existe sempre, ele e aquilo que ele contém”. Passado e futuro são meras noções, fantasmas, homem tolo! Noções que,  em teu espírito,  se formam, que te impedem de viver no kairós (o tempo oportuno).


Os gregos chamavam kairós ao instante propício, àquela parcela de tempo durante a qual devemos aproveitar o que é preciso aproveitar. O hedonismo é celebração do presente e indiferença ao passado e ao futuro. Pretender buscar em outra parte, que não nesta dimensão pontual do tempo, as alegrias, é um erro. Homem tolo! Ao desejar ser feliz, nunca é feliz!  O essencial para um grego como Aristipo era fruir o instante, era pedir ao presente o que ele pode dar e nada mais. A experiência do kairós é única: trata-se de apanhar o que deve ser apanhado, nem antes, porque cedo demais, nem depois, porque tarde demais.