Suspiros
da alma
Eu que me vire com essas palavras
mal vestidas, maltrapilhas. Eu leio para
suportar a vida. Cada palavra esconde um abismo, onde o tédio e o gosto amargo
ficam enlaçados ao descontentamento. Cada palavra faz-me reprimir o entulho de
frustrações pretéritas, nas quais os amores plenos de imaginação nunca vividos
encontram raízes. Despertei de um sono entorpecente quando aprendi a viver a
filosofia. E mais elevado tornou-se meu espírito das Letras! Mais vale abandonar
as “certezas” e se entregar aos desafios do pensamento.
São poucas, deveras, poucas as
pessoas que me parecem interessantes. E não encontro as razões por que tal me
pareçam. Bem sei que não me enquadro. Os esquadros de minha alma traçam figuras
irregulares. Entre mim e o mundo não há coesão rija. Estou ligado ao mundo o
suficiente para não me apegar. O apego mascara carência sob uma catadura de
afeição. O apego sempre me pareceu algo degradante.
Malgrado me esforce por evitar
estar a sós com os pensamentos, que teimam em conduzir meu espírito para os
grandes salões da angústia, ao som de uma nota fúnebre de desespero, eles
conseguem capturar minha alma, ao primeiro sinal de distração. Ponho termo a
este texto para conservar a sua integridade. Custar-me- ia catar seus pedaços.