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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Saudosos versos que outrora as noites me embalavam





A minha tragédia

Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida
Parece que a minh’alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade

Ó minha vã, inútil mocidade
Traze-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!

Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!

Gosto da Noite imensa, triste, preta
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...

(Florbela Espanca – Sonetos)



Rua Solidão

A noite alfombra sombra que se aflora
e, passo a passo, junto a mim cultua
degredos e segredos de uma rua
que foi festiva e é silêncio agora

Sombra que alenta o tempo e rememora
o debruar do amor que me insinua
a rua que, em meus sonhos, continua
tendo aquela que nela já não mora.

Paramos, sombra e eu, em seu portão,
a sombra a me lembrar nosso passado
e eu para vê-la, e lhe pedir perdão.

Mas a casa é silêncio e negridão...
E sombra e eu, volvemos, lado a lado,
Dos degredos da rua solidão.

(Ronaldo Cunha Lima, As flores na janela de ninguém)



Tardes

Repousado. As tardes de um cinzento nu.
Entre as mãos, um livro de ânsia vã.
Penso não há tão lindos olhos de um azul
Que da alma afugenta a tristeza anciã.

Sou o que ama a tempestade.
Sou o sensível, que se esquece, e vaga...
Sou talvez uma simples tarde...
De outono: uma folha seca e mais nada.

Penso num motivo que me esqueceu,
Nas rosas ásperas de meu afã,
Nas noites, no amor que não é o meu.

Perdoa-me, Ò Adorada, o que não sou
Sensível! Soturno, jazido no divã
Aquele que não mente que nunca amou.

(BAR)