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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"E minha existência é governada pela linguagem: é um silêncio que verbalizo!" (BAR)

                                                 
                                                   O meu silêncio


Ouço já os repiques de tamborins. O carnaval está aí, batendo à porta. É já chegada a hora de libertar-se da rotina e liberar a alegria, que vive aprisionada na redoma do cotidiano. Deixarei, por uma semana, os pensamentos mais instigantes numa gaveta ou silenciados na alma. Até escrevi um texto que precisa ser divulgado neste espaço; mas vou protelar sua publicação.
O carnaval, contudo, não mascara a minha crise. E ela consiste na seguinte questão: O que pretendo eu com a divulgação de meus textos neste espaço? A motivação que está na origem parece-me, hoje, nebulosa. Antes escrevia para fazer-me existir. Precisava bradar ao mundo, ou a uma ínfima parte dele, que eu existia e sofria. Os textos foram erigidos das ruínas de meu sofrimento. Um sofrimento psíquico, que é pior. Felizmente, sucedeu que eu consegui suplantá-lo. As trevas se dissiparam e novos jardins verbais ganharam vida. Hoje, cultivo flores de conhecimento e sinto, não sem inquietude, que estou condenado a ser este agricultor solitário. Escrevo a uma minoria que dá testemunho de si, ao ler-me. Não é que eu almeje a visibilidade de um grande público, mas como professor (e quem é professor bem o sabe) gostaria de que muitos tomassem parte do processo de constituição do conhecimento.
Quando escrevo, eu não ensino; eu compartilho aprendizagens. Compartilho conhecimentos, abro espaços para diálogos, reflexões. É este o propósito deste blog. E sinto pulsar forte em minha alma essa emoção que me impulsiona ao saber, mesmo que ele não me sirva de nada. A minha realização está justamente na própria atividade de constituição do conhecimento. Quando leio, me alegro. O prazer está nas palavras que leio, no que elas me revelam. Há livros que me extasiam. A leitura é minha defesa contra o mundo, é a âncora através da qual evito que minha existência fique à deriva, se perca num vasto oceano de empobrecimento da consciência crítica.
A leitura não pode estar apartada da vida. Para muitos, leitura é clausura. Muitos não concebem a relação entre ler e viver. Diante de um livro, eles só vêem o dever, quase nunca uma ponta de prazer. A leitura assemelha-se a um exame médico que não queríamos fazer mas precisamos, para que nos livremos de uma enfermidade.
Essa crise, que me desanima, não haverá, contudo, de me fazer desistir. A inquietude é que me mantém vivo. E minha existência é governada pela linguagem: é um silêncio que verbalizo!