Linguagem
silente
Imagino-me
numa comunidade de leitores. Em face de amigos leitores, a conversar sobre
nossas leituras... Que bela imagem nutritiva para a alma! Que teria eu a
contar-lhes? Ah! Tanta coisa! E deles esperaria eu muito mais... Entanto, só
encontro o silêncio dos livros na alma dos que me dirigem a palavra. Vejo-me
então contando a minha psicanalista sobre os declives e aclives de minha alma. Não
é fácil despejar a solidão da morada da alma. Ela é relutante e, rendendo-se,
torna a habitá-la. Vivo, por vezes, confundido em mim mesmo. A densidade de
pensamentos atinge graus intoleráveis. Tornam-se pesados e embaralham-me o espírito.
Vivo me atropelando. Não raro, acordo sobressaltado na madrugada entulhado de
pensamentos. Dou-me conta de que eles atravancam o caminho da serenidade. Quero
dispensá-los, mas não consigo e insisto, em vão, na busca pela pessoa com quem
compartilhá-los. Pobres espíritos incapazes de absorvê-los. Tomam-nos
superficialmente; não os compreendem, porquanto foram acostumados à tagarelice
cotidiana, que não favorece a fecundação de pensamentos que se elevem acima das
banalidades temáticas.
Escrevo
sem outra pretensão senão derramar-me.