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domingo, 18 de dezembro de 2016

"Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência" (Schopenhauer)


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                     Uma lição de Schopenhauer
                   Um comentário sobre o destino humano


Na seção 63 de O mundo como vontade e representação, Schopenhauer dedica-se a discorrer sobre uma forma de justiça a que ele chama JUSTIÇA ETERNA. Essa justiça – assevera Schopenhauer – existe e “está na essência do universo”. Após recapitular brevemente os pontos essenciais de sua doutrina, Schopenhauer delega exclusivamente à Vontade a responsabilidade pela existência do mundo e por sua organização. Assim, o mundo é tal como é porque a Vontade assim o quis. Em seguida, Schopenhauer dirige a seus leitores a seguinte pergunta: “Querem saber o que valem, no sentido moral da palavra, os homens, considerados em geral e no conjunto?” (p. 369). Pede o filósofo que se considere o destino dos homens “em conjunto e em geral”. Eis a seguinte descrição que dá Schopenhauer desse destino:


“Eis esse destino: necessidade, miséria, lamentos, dor, morte. É que a eterna justiça vela: se, considerado na totalidade, eles não valessem tão pouco, o seu destino médio não seria tão horrível. É neste sentido que podemos dizer: o tribunal do universo é o próprio universo. Se fosse possível colocar numa balança, num dos pratos, todos os sofrimentos do mundo, e, no outro todas as faltas do mundo, a agulha da balança ficaria perpendicular,fixamente.” (p. 369-370).


É por temor à incorporação dessa verdade incontestável – “a insignificância humana em face da vontade universal, ou do próprio universo”- que os seres humanos criaram um Deus que é Pai, do qual esperam não só proteção contra as intempéries da vida, mas também – principalmente - elevação ao lugar de máxima importância na (humanamente inventada) hierarquia universal. No seu íntimo, entanto, cada indivíduo sabe que sua vida é, em escala universal, tão insignificante quanto a de um mosquito, que pode, sem muito esforço, adoecê-lo e aniquilá-lo. Pode-se imaginar de quão intenso terror seriam tomados todos os indivíduos que se detivessem a meditar seriamente sobre sua condição existencial. A vida de cada um deles só é possível sob a condição de um autoengano imperturbável. E sempre zelosa de preservá-la, a imensa maioria deles evita a filosofia, já que uma vida filosófica tem um custo o qual eles não estão dispostos a pagar: a redução ao máximo possível das ilusões que tornam suportável viver , acompanhada da consequente hipertrofia da consciência, isto é, do mais alto estágio de seu desenvolvimento, que é a própria Lucidez. É a Lucidez o maior perigo para o homem divorciado da filosofia, porque a Lucidez flerta com a loucura e com a possibilidade de suicídio. E porque a filosofia não é um objeto de estudo, mas uma experiência pessoal, não surpreende que os indivíduos em geral evitem vivê-la intimamente; não oferecendo salvação alguma, a filosofia, “condenando” o homem à Lucidez, não pode fazer – e aqui faço eco a Cioran – senão afiar a faca do conhecimento interior do homem, a fim de que ele possa suportar ou pôr fim à própria vida com alguma dignidade.