A infidelidade à Vontade
Da
próxima vez eu prometo
Que
nada prometerei
Eu
prometo que desconfiarei
De
quem me disser
“Que em seu caminho Deus me pôs”
Prometo
não trair-me a mim mesmo
Não
conciliar-me com a mentira!
Rirei
na certeza de que nada significo
“Pois Deus é puramente um nome”
Nada
significa para mim
Deus
e o Nada são como os avessos
De
uma moeda antiga
Então,
darei as costas
Não
sem antes advertir
“Não pronunciarás o nome de Deus em vão”
O
nome de Deus cheira mal
Cheira-me
à podridão, à hipocrisia!
Deus
foi o erro mais grave da humanidade!
A
maldição da História!
Deus
foi o pior dos crimes!
E
querem chamar Deus de amor
E
assim aviltam o amor, já tão maltrapilho
“Deus é amor”
Que
significa essa proposição?
Que
Deus e o amor são uma ilusão
Não
me comprometam com Deus
Pois
que me ofendem
Não
que Deus seja-me ofensivo,
Já
que Nada é, não pode sê-lo
É
que o conheço bastante
Para
não pactuar com o desejo de sua existência
Admiro
apenas os cristãos
Que,
ao crerem saber a vontade de Deus
São
a ela fiéis
Ser
fiel à vontade de Deus
É
saber que Deus é infalível
Um
Deus equivocado merece repúdio!
Devotos
equivocados
Na
direção da vontade de Deus
São
meros encenadores
A
modernidade tornou Deus blasè
Outrora
Deus frequentava o indizível
O
impensável
“Aquilo em relação ao qual não se pode
pensar algo maior”
Deus
presidia solenidades
Se
bem que já era fiador de indulgências
O
porteiro dos Céus!
Hoje,
Deus já não afiança como outrora
A
própria Vontade de Deus altera-se segundo as conveniências,
Deus
já não tem mais vontade alguma
A
vontade de Deus não é mais necessidade;
O
fiel não medita sobre a Vontade de Deus,
Crer
chegar a ela a posteriori
“Não foi dessa vez!”
“Não foi a vontade de Deus!”
Que
decadência da Vontade!
(BAR)