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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

"Minha alma é um embrulho difícil de abrir" (BAR)


 

 
                                                               (Des)embrulhando-se




Em mim, aprisionado um sentir-se deslocado. A serenidade enjaulada na presença do desespero. Trago na alma algo desesperante que asfixio para sobreviver. Há dias se me aconchegou a vacilação e o temor. ‘É preciso escolher!’ Brada-me a sensatez. E o sentir-se só aperta-me mais o seio do ser. A ansiedade me inunda. Em vão, varro a angústia para debaixo do entulho recalcado. Apenas as pessoas psicologicamente densas precisam de psiquiatra. Os imbecis não necessitam, nem aqueles que raramente se ocupam de si mesmos. Estes vivem segundo as flutuações rasas do humor e costumam ver sol na iminência de uma tempestade. Tenho-me esforçado por sustentar a conciliação entre mim e o desejo. Em mim, reside um profundo desentendimento entre o existir e o desejo. Há tempo matei a esperança em favor da autonomia. Deleguei à ação o poder de autoridade sobre minha inclinação à apatia. Os clichês do amor já se me tornaram intoleráveis. Alieno de mim todos eles. Precisei vestir esta couraça da indiferença por força das circunstâncias adversas ou das escolhas precipitadas – o que dá no mesmo, quando consideradas as consequências. Viver é equilibrar-se na alternância entre os aclives e declives do espírito. Toda constância de alma é, para mim, suspeita. É a forma mais robusta de neurose. Os psicanalistas o confirmam.


“Dizem os psicanalistas que aqueles que estão “bem-demais-em-sua-pele” podem estar em estado de perigo, pois a normalidade elevada ao plano de um ideal não é senão a loucura bem-compensada, que poderá explodir a qualquer momento que houver descompensação”.

(p. 14)

(O que é neurose, São Paulo: Ed. Brasiliense, 2004)


Esse enfrentamento íntimo que travo entre mim e o comigo é que produz em minha alma o gosto acre de desconforto. Eu mesmo me incomodo.

 “Muitas vezes são os homens retos e puros, espontâneos e autênticos, corajosos, criativos e rebeldes que são considerados “anormais” por uma sociedade que, no fundo, teme as mudanças que eles possam provocar”.

(p. 15)

(O que é neurose, São Paulo: Ed. Brasiliense, 2004)

Lamento ser o leitor inapto para a compreensão da profundidade semântica deste texto que põe a descoberto o abismo de minha emoção. E não o culpo porque o íntimo, sempre inescrutável, é inapreensível pela linguagem ordinária. Ficar-lhe-á apenas a sensação de meia compreensão – o que me é bastante.