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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração." ( Martha Medeiros)

                                                                                 
                                     
                                    Inflexão da alma





“Não é possível viver demasiadamente consciente, demasiadamente pensante. Aliás, observemos a natureza: tudo o que vive muito e contente não é inteligente. As tartarugas vivem séculos, a água é imortal (...). Na natureza, a consciência é a exceção; pode-se até postular que ela é um acidente, uma vez que ela não assegura nenhuma superioridade, nenhuma longevidade particular. No quadro da evolução das espécies, ela não é sinal de uma melhor adaptação”.

(Como me tornei estúpido, Marin Page)


Relendo um texto que compus há poucos dias, em que me queixava de  nunca ter encontrado mulheres intelectualizadas que eu pudesse namorar, senti-me leviano. Por que razão, no final das contas, seria isso importante?
Pondé me desperta para uma filosofia desprendida da arrogância e aspirações acadêmicas. Não há sentido em pretender atingir o cume de conhecimentos, se for para nos tornarmos antipáticos ou ressentidos. Afetação intelectual é tolice. Causa enfado e sentimento de abandono. O que não significa que tenho de desistir de levar as pessoas a pensar.
Espero chegar à idade em que eu compreenderei, com Pondé, que a busca pelo reconhecimento acadêmico e prestígios intelectual e profissional é vã ou desimportante. Mas até lá preciso empreendê-la, mesmo que seja para me frustrar. Preciso evitar o fracasso para experimentar, futuramente, a frustração e o tédio.

“Cansei da filosofia, por isso comecei a escrever para não filósofos, porque a universidade, antes um lugar de gente inteligente, se transformou num projeto contra o pensamento. Todos são preocupados em construir um mundo melhor e suas carreiras profissionais. E como quase todas as pessoas são feias, fracas e pobres, sem ideias e sem espírito inquieto, nada nelas brota de grandioso, corajoso ou humilde. Eu não acredito num mundo melhor. E não faço filosofia para melhorar o mundo. Não confio em quem quer melhorar o mundo. É isso mesmo: acho um mundo de virtuosos (principalmente esses virtuosos modernos que acreditam em si mesmos) um inferno. Um bom charuto, cachimbo ou cigarro pode ser uma boa companhia na leitura destes ensaios. Ou uma mulher gostosa do seu lado, ou um homem charmoso. Depois do sexo – e do cigarro -, leia um desses ensaios, quem sabe a quatro mãos.”

(p. 19)


“(...) os pequenos ensaios que você tem em mãos foram escritos por um filósofo de carreira, que cumpriu todos os rituais exigidos e que finalmente os recusou. Hoje, os vejo como vazios de sentido Alguém que passou pela faculdade de medicina, trabalhou como voluntário num necrotério, formou-se em psicanálise e cada vez mais está interessado no que pessoas comuns perguntam (...), e cada vez menos interessado no que a universidade quer. E o que ela quer? Como comecei a dizer acima, ela quer burocratas medíocres que se escondam atrás de grandes teorias para não confessar sua insegurança diante da temida falta de sentido da vida e de sua matéria concreta, o envelhecimento. Não controlamos a vida. Grandes planos podem dar em nada, ter fé pode levar você ao fracasso, acreditar em si mesmo pode levá-lo a erros definitivos, escolher ficar rico pode ou não dar certo, ter muito dinheiro pode sim garantir pessoas ao seu redor amando-o (Nelson Rodrigues dizia que dinheiro só compra amor verdadeiro...) ou pode levá-lo à solidão – enfim, não há garantias. É por isso que o normal é ser inseguro, mentiroso, covarde, e não santo ou corajoso.”.

(p. 21)


(Contra um mundo melhor, Luis Felipe Pondé)

Eu acho que os professores de português deveriam reconhecer o papel fundamental que podem desempenhar na formação cultural ampla dos estudantes; é ele a autoridade competente a quem se destina a formação de leitores. Mas, para formar leitores, os professores de português precisam ser leitores. Trabalhando a leitura, o professor de português pode transitar por várias áreas do saber humano. Por isso, espera-se dele também uma formação cultural ampla. A possibilidade de explorar junto aos alunos, no ensino da leitura, diversas temáticas em variadas áreas do saber humano, deve ser encarada como um mérito. No entanto, muitos de nossos professores de português ainda insistem em ensinar análises gramaticais pura e simplesmente. Não se dão conta de que, pela leitura, podem se apoderar de um repertório de conhecimentos que tornarão seu trabalho como formador de leitores muito mais eficiente.
Tal é um fato que me desagrada e, em minha prática pedagógica, esforço-me por não me acomodar. Mas a frustração é inevitável, por vezes.