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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Sinto a vida como quem contempla um exuberante jardim: o encanto é frágil" (BAR)


A minha impressão

"Ontem mesmo, assistindo pela televisão ao trabalho dos bombeiros na remoção dos escombros do prédio que desabou no centro do Rio, ouvi a repórter dizer que, para piorar, a chuva persistia. Claro a chuva torna o trabalho mais difícil, pois os entulhos ficam mais pesados, a remoção é mais trabalhosa. A chuva caia indiferente aos anseios dos homens que tinham de lidar com a nossa tragédia, homens dignos da humanidade, guerreiros incansáveis na luta por encontrar mais sobreviventes... Mas a chuva caía e enquanto caía parecia trazer consigo o silêncio desolador de um universo igualmente indiferente... Como poderia haver um Deus, se nada podia fazer sequer para parar a chuva? A chuva caia ignorando os esforços humanos por resgatar vidas e recolher os mortos... A chuva caía, como deve ser a chuva... e no seu ininterrupto jorrar, em cima só a escuridão da noite e embaixo o barulho das escavadeiras, tratores, viaturas de polícia, ambulâncias e choros... Vez por outra, "um graças a deus" pelas vidas que se salvaram! Cada vez pronunciado, o "graças a deus" abafava as vidas que se perderam, ignorava-as, mascarava a realidade trágica: não há uma força onipotente a intervir por nós, nada semelhante a um deus que está interessado em nós, na vida neste planeta! Um deus que nada pôde fazer quando seus filhos estavam fazendo algo que poderia ter consequências graves? Um deus que é incapaz de evitar que um tsunami provoque a morte de milhares de pessoas, que um terremoto ceife milhares de vida, que vulcões dizimem uma população inteira? Que epidemias se alastrem e aniquilem crianças, jovens, adultos e idosos? Que judeus sejam fuzilados em massa? Que fanáticos lancem aviões contra arranha-céus, matando milhões de pessoas inocentes? Nem o Deus de Abrão, nem o Deus de Jesus, nem o Deus de Maomé... nenhuma dessas dividades, que não passam de representações da imaginação humana, evitou nada disso. A História falseia essas representações, mostrando-nos que a vida humana se desenvolveu sempre por meio de guerras, conflitos, e enfrentamento de nossas tragédias, cuja origem não repousa só no domínio das ações humanas, mas advém da fragilidade de nossos corpos e das condições muito hostis do meio ambiente. "

(BAR)